
Depois de uma espera de dar nos nervos, Gotham finalmente estreou. Com diversos materiais de divulgação, desde trailers a pôsteres, a série conseguiu nos fazer contar cada dia para seu episódio piloto.
Mexendo em uma mitologia que metade do mundo admira, Gotham tem como premissa seguir James Gordon (Ben McKenzie), antes de se tornar Comissário e acompanhar o desenvolvimento de personagens conhecidíssimos. Mulher-Gato, Pinguim e Charada são os futuros vilões que já aparecem nesse primeiro contato, bem como o herói Batman, já que o assassinato de seus pais é o ponto de partida da série.
Logo nisso, o seriado já ganha pontos. Não se preocupa em criar mistério sobre o acontecimento da morte dos Wayne. Todo mundo sabe o que aconteceu, então isso é logo mostrado para que o destaque seja desviado e caia sobre Gordon e seu companheiro, o Detetive Harvey Bullock (Donal Logue). Assim, já somos enfiados no sujo Departamento de Polícia e na mentalidade criminosa e violenta dos cidadãos.
Nessa levada, a atuação de Logue é uma das que mais se destaca. Só é eclipsada pela inserção de Jada Smith como Fish Mooney. A personagem, criada para a série, é o conhecido arquétipo vilanesco que todos adoramos ver e que, no fundo, torcemos para que continue fazendo maldades. Infelizmente, num primeiro momento, não podemos dizer o mesmo de McKenzie. Talvez por estar sempre em tela e ter que carregar muitas cenas nas costas, percebemos alguns momentos de overacting. Mas tudo bem, acreditamos em Benzinho, since The O.C.
Em meio à tentativas, o tom do programa acaba acertando. Pode parecer que a cidade, mesmo insalubre até na parte da manhã, pede uma tomada ainda mais dark, mas isso é muito mais a impressão de uma audiência pós-Nolan (impossível não recobrar os filmes) do que um pré-requisito. Só não precisava da trilha exagerada que ressalta uma sonoridade brega dos anos 90. Década, inclusive, também presente na fotografia e nos movimentos de câmera, só que funcionando muito bem nesses pontos.
Além disso, o seriado traz uma plasticidade caricatural que ora se assemelha à inspiração nas HQs, ora se descola muito de uma estética televisiva, o que pode estranhar o espectador. Esse formato exagerado, aliás, também se destaca, de forma bem-vinda, nos personagens coadjuvantes. É o caso da movimentação felina de Selina Kyle (Camren Bicondova), da psicopatia evidente de Edward Nygma (Cory Michael Smith), do andar de Oswald Cobblepot (Robin Lord Taylor) nos minutos finais e dos olhares de Ivy Pepper (Clare Foley).
Gotham abre novos caminhos para a nunca-exaustiva história de Bruce Wayne (David Mazouz), quando decide tirar, justamente, o foco do futuro vigilante. A podridão da cidade e seus habitantes é um vasto território e permite ótimas surpresas para o público. Se exageramos, é quase como presenciar um estudo determinista em ação, se não, tem chances de ser um entretenimento que não desaponta.

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