Kiss Me Onceé o primeiro álbum de Kylie Minogue sob o comando/distribuição do selo Roc Nation. Muito se especulou, se temeu, de que agora ela seria outra pessoa. "OMG.U.Y., vão fazer de tudo pra vender a Kylinda pros Estados Unidos!!!". Calma, a linda não mudou, continua fazendo a música boa de sempre.
Por isso, começamos a olhar para o disco com outros olhos e percebemos que ele funciona, na verdade, como uma jornada. Sabe aquela história de ter medo de se relacionar com alguém? Kylie é gente como a gente e viveu isso também (quem nunca?). Deixemos as tecnicidades (só um pouquinho) de lado para analisar essa saga lírica de nossa Afrodite.
Não haveria escolha melhor para faixa de abertura e lead-single. "Into The Blue" começa na incerteza. Kylie está insegura em dar o primeiro passo na relação, assim como você está quanto à essa sonoridade ser só fachada e que depois virá apenas músicas genéricas.
No entanto, ela funciona como presságio para todo o resto do álbum, o que fica claro já com "Million Miles". Aqui, Cutfather, o produtor de "Get Outta My Way", reforça o que ouviremos, enquanto a artista canta que não consegue se conectar muito bem com quem ela gosta. Daí, Kylie confessa que pensou em dar o bolo na sua paquera e "I Was Gonna Cancel" ganha o toque poderoso de Pharrell Williams para dar o tom retrô (com inspiração de leve no r&b). Mas por que cancelar um encontro? A gente nunca sabe o que pode acontecer, né?
"Sexy Love", com leves guitarras já conhecidas do repertório da australiana, te convida a dar dois passinhos pro lado + palma, enquanto clama por uma relação sensual e gostosinha. Essa relação se mostra selvagem em "Sexercize", com sua produção apurada, como todo material, mas talvez a mais "simples". O que é ótimo, porque faz a sexualidade voraz se sobressair em meio aos bounces.
Depois do sexo, em "Feels So Good", Minogue demonstra como se sente bem do lado daquele que escolheu pra si, mas parece ter a incerteza corriqueira se as coisas darão certo. E não deu. Como fica explícito em "If Only", uma das melhores. Os instrumentos de corda dão o tom melódico necessário para esse afastamento.
E já que não deu certo mesmo, Kylie nos reapresenta seu eletropop burlesco em "Les Sex". Nesse ponto da jornada, a moça decide ir pra casa do Seu Zé (referência aqui). Mesmo sós, vamos aproveitar, né gente? Como fica claro em versos como "In the dark we don't say 'no', we say 'yes, please'". E como tudo poderia acontecer, em "Kiss Me Once" (com o dedo da produtora executiva Sia, mas mantendo a essência Kylie) parece se apaixonar de novo, em meio à suas aventuras.
Então chega "Beautiful" (parênteses para deixar claro: nunca vamos entender o porquê do Enrique Iglesias no featuring e/ou o uso exagerado de vocoder). Parece que todo les sex virou les love forever, com sua letra simples sobre como a paixão nos faz enxergar a beleza do outro. Mas a moça sabe que nem todo mundo já encontrou seu Enrique e completou sua saga, por isso, com o eletropop poderoso de "Fine", reafirma que as coisas vão dar certo pra você também. Temos pressa pra que tudo se resolva logo, mas Kylie só faz um pedido: "turn your face into the sun".
Depois, na versão deluxe - da qual não nos conformamos com a ausência de "Skirt" - ela ainda nos conta um pouco da sua brincadeira com o amorzinho na super divertida (principalmente nos seus toques eletrônicos pós-refrão) "Mr. President". Kylie também não deixa seu produtor de longa data, Greg Kurstin, de fora. O chama pra produzir "Sleeping With The Enemy", uma música que fala como a cantora parece não conhecer seu companheiro. Com essa mid-tempo de gosto "to be continued", parece que a viagem ao desconhecido recomeçará.
Contrariando todas as incertezas, Kiss Me Onceé um álbum Kylie de ponta à cabeça. Dentro de sua icônica discografia não é o que mais se destaca, mas não nos faz duvidar em nenhum momento de sua capacidade artística. Para o primeiro material dentro da Roc Nation, funciona muito bem como o primeiro beijo que se faz apaixonar. Mal podemos esperar pelo segundo, quando vamos ter ainda mais de seu amor.
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